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  • Foto do escritorGustavo Sérgio Heil

BREVES REFLEXÕES SOBRE AS OITO QUALIDADES ÁTMICAS

Atualizado: 28 de jan. de 2021


Após a leitura da obra Suddha Raja Yoga, colhe-se o ensinamento de Hamsa Yogue sobre a importância de experimentar os três pilares da Suddha Dharma Mandalam – Bhávana, Karma e Dhyana. Referido Ser de Luz destaca que o Bhávana, a percepção na Unidade, merece do discípulo a atenção.

Para se viver em estado de Unidade, deve-se internalizar as virtudes éticas espirituais. Em 1980, meu amado instrutor Gnana Dhata Sérgio Fonseca Baptista Barretto trouxe à lume a obra Mergulho na Luz do Coração que sacraliza cada um dos princípios espirituais extraídos da Srimad Bhagavad Gita (oito qualidades átmicas e vinte e quatro dáivicas). A pretensão deste artigo é explorar um pouco sobre as oito qualidades átmicas com a absoluta certeza de se tratar de um assunto vasto e inesgotável.

Tudo no começo pode parecer distante e difícil de ser conquistado. Uma pessoa que recém inicia o percurso pode acreditar que somente um herói ou um santo teria condições de alcançar a linha de chegada, o cume da montanha.



Logo que se empreende a missão de aprender sobre a ética superior, podemos ser seduzidos pela necessidade de reconhecimento externo, a querer a colheita dos resultados de nossas ações. Entretanto, ao longo do caminho, vamos, tal qual uma pedra que é levada pela correnteza do rio, deixando de ter pontas, ficando mais lisa, suavizando, com isso, a existência.

Os preceitos divinos inerentes ao Átman (Espírito). Quando o homem é por ele governado encontra a bem-aventurança. No entanto, quando se permite ser guiado pela mente inferior (mente-emoção), suas escolhas são fundadas em interesses individuais, na mera satisfação dos sentidos.

As primeiras oito qualidades espirituais são: 1) Anasuya (tolerância, ausência de inveja); 2) Daya (compaixão); 3) Shanti (paz, quietude e tranquilidade); 4) Aspruha (ausência de cobiça); 5) Shawcha (pureza integral, física e de coração); 6) Akarpanya (mentalidade inegoísta); 7) Anayasa (perseverança) e 8) Mangalam (irradiação de felicidade).

Se não for possível, num primeiro momento, vivenciares todas essas qualidades espirituais, selecione algumas delas para dar início à purificação do SER. Olhe para dentro de si e encontre com quais dessas qualidades você tem maior afinidade. Chame-a. Acenda a chama, o fogo irá chamuscar e auxiliará a exteriorizar todo o seu Ser. Não te esqueças de que estás indubitavelmente fadado à iluminação.



1) ANASUYA – Tolerância, Ausência de inveja.


Perceba que a jornada é repleta de experiências agradáveis e desagradáveis. Tu que compreendes a dualidade da senda, aprende a tolerar e transcender os desafios mundanos. Aceita, com a lente do amor, tanto a rosa como os seus espinhos.

Não te esqueças que o impulso e o instinto são atributos inferiores. Evite ser reativo; ao contrário, tenhas responsabilidade para com a vida. Devolva ao mundo pensamentos, palavras e atos pautados em preceitos éticos universais superiores.

A tolerância será gradativamente alcançada quando te permitires experimentar o Bhávana (percepção unitiva). A partir desse estado de consciência, tu passarás a tolerar as imperfeições do mundo, do outro e de ti próprio.

Mas é preciso ter em mente que tolerar, numa oitava maior, não significa suportar. Indica ausência de julgamento, um sentimento de amorosidade que transborda e acolhe, uma completa ausência de separatividade.

Arranque as ervas daninhas do teu jardim e importa, do santuário do teu SER, a paz e a bondade.

O indivíduo, com a visão distorcida pela inveja, é iludido por uma ideia de falta, de escassez. Como consequência, limita-se a enxergar as qualidades apenas fora de si.

Levanta, pois, o véu que está sobre tua face e visualiza o Todo em tudo e o tudo no Todo.


 

2) DAYA - Compaixão


O Mestre Jesus Cristo ensinou-nos sobre a compaixão. Não obstante ele tenha passado pelos sofrimentos infligidos pela humanidade, permaneceu incólume e propagou esse tesouro espiritual – a compaixão.

Durante sua jornada terrena, Cristo percebia a presença da Centelha Divina (Átman) em todos os seres vivos- sem exceção -, mas também sabia que a consciência de cada ser oscilava de acordo com o seu grau de evolução.

Tu que empreendes o caminho eterno do desenvolvimento, quando vires um irmão praticando ações equivocadas, não te esqueças de que nele também reside o Divino. Esta compreensão não significa que estás a concordar com a conduta não virtuosa do teu irmão.

É mais fácil adorar o santo, o místico, à frente na trilha evolutiva. Ame o próximo não pelas suas ações e sim por reconhecer a Chama Divina (Átman) em seu coração etérico.

Na vivência da compaixão, o discípulo deve ter o cuidado para avaliar se a sua ação é responsiva e ajuda o outro em seu despertar. Se estás mais amadurecido em relação ao teu próximo, te cabe, pois, ajudá-lo.

Assim como o Pai Celestial ensina seus filhos e acredita no seu desenvolvimento, investe em cada ser vivo que tiveres oportunidade de ajudar.


 

3) SHANTI - Paz, Quietude, Tranquilidade


A quietude é a mística capaz de pacificar a mente. Somente por meio da quietude mental dispomos de condições para aceitarmos o Átman (Espírito) como o condutor de nossa consciência.

O corpo mental-emocional produz emoções e pensamentos de forma constante. Se permitires que sejam produzidos sem critérios superiores, passarás a ser governado por impulsos e instintos. Os desejos produzidos pelo ego, quando supridos, levam ao prazer; quando não, ao sofrimento.

Procura em todos os teus dias um momento para o teu silenciar. Permite que a quietude por trás de tudo o que há de mais raro compenetre teu Ser. Sinta a tranquilidade qualificar o teu olhar.

A paz é um estado de comunhão. A quietude é um templo sagrado. Ingressa nela e permanece conectado a Deus.

Como costumeiramente ensinou o Gnana Dhata Sérgio Barretto: “Aqui no ocidente, predomina a sagrada e divina instrução de Jesus Cristo, que instruiu sua mensagem: ‘não busqueis o reino de Deus aqui ou acolá, mas dentro de vós’; e ainda: ‘quando orares, entre em teu templo (coração espiritual – no centro do peito), fecha as portas e janelas (sentidos) e, em silêncio, adora teu pai (Deus)’”.

 

4) ASPRUHA – Ausência de Cobiça


Tu filho, que estás no fronte de batalha, faz a ti próprio a seguinte pergunta? Por que razão eu luto? Qual a causa de empunhares tua arma de combate e tornar-te um verdadeiro Kshatriya (guerreiro na batalha espiritual)? De todas as guerras vistas na história da humanidade, nenhuma se compara a que deves agora empreender: a batalha interior.

Se estiveres com a pretensão exclusiva de viveres horizontalmente as experiências do mundo, cuida para não ser iludido pelo plano de Maya. Nele, encontrarás bens e prazeres terrenos. Mas lembra-te: nunca te contentarás! A mente inferior irá procurar a satisfação de um desejo atrás do outro. É assim que ela se mantém no Poder e escraviza o homem.

A cobiça do ter representa a venda dos olhos do cego, a areia movediça. Com o tempo, torna-se mais difícil encontrar uma base segura para o crescimento na senda evolutiva.

Quando estiveres aprendido a ingressar no mundo, mas também sair dele para sua morada interior, terás condições de contemplar, com equilíbrio, o esplendor da vida material atento sempre ao verdadeiro propósito de tua existência.

Pergunte a si próprio: Estou indo para o Mundo ou dele voltando? (ensinamento do Gnana Dhata Antonio Arias)

 

5) SHAWCHA – Pureza integral, física e de coração


Quando se observa através de um vidro empoeirado vemos uma imagem destorcida da realidade. O mesmo acontece ao mergulhamos em águas turvas ou dirigindo um carro em uma estrada repleta de neblina.

Toda essa névoa atrapalha a percepção e precisa ser dissipada. Trabalha incessantemente na purificação integral. Um instrumento musical precisa de afinação em todas as cordas para emanar e convergir num som harmônico. Permita-se ser diariamente burilado, para que todos os teus veículos inferiores estejam alinhados com teu Átman.

Precisamos ser justos com a forma com que lidamos com todos os corpos (koshas). Esse senso de justeza representa estar vigilante a como cuidamos do corpo físico, qual alimentos lhe damos, horas de sono, etc. Da mesma forma, o corpo mental-emocional deve ter o devido cuidado para ser desenvolvido. É preciso atentar-se para a frequência vibratória dos pensamentos, palavras e emoções.

Só quando tiveres purificado plenamente os veículos do teu SER estarás livre do processo samsárico mundanal (roda de nascimentos e mortes).


 

6) AKARPANYA – Mentalidade inegoísta


E o Mestre disse: Peregrino da Luz, vença teu pior inimigo? E ele foi lá e venceu a si mesmo.

A consciência de si mesmo, conhecida no sânscrito como Ahamkara, é vital para o progresso. Não devemos, contudo, permitir que o princípio egóico seja o governante.

O primeiro passo é transformar a mentalidade egoísta em altruísta. Começa por ajudar as pessoas e seres próximos ao teu entorno. Para fazer isso, o aspirante precisa deixar de pensar em si como a única coisa importante. Torna-te irmão de jornada de todos os seres. Viva o Bhávana de maneira integral e todas as amarras egóicas se dissiparão.

Pratica o bem ao próximo. Dedica tua ação ao Divino, sem te preocupares com a retribuição de teu semelhante.


 

7) ANAYASA – Perseverança


A perseverança é uma lei superior que deve ser buscada em primeiro lugar, pois é por seu intermédio que o aspirante terá condições de acessar as demais qualidades espirituais.

Não desanimes nunca! Aceita os desafios. Aprende com eles. A vida terrena funciona como uma escola e como tal precisamos aprender com os exercícios e provas.

No início, tendemos a fazer a tarefa com esforço. Depois que aprendemos, conhecemos e praticamos, passamos para uma segunda etapa do processo: a síntese. Quando, por meio da perseverança, conquistamos uma virtude, ela passa a ser exercida com naturalidade.

Muitos dos sábios que praticam ações elevadas aos olhos do homem comum, sequer se dão conta de que tal conduta é assim considerada. A persistência permite que o caminhante chegue ao topo da montanha, que a criança venha ao mundo, que o pássaro voe, que a árvore produza frutos e que o homem tenha contato com sua Centelha Divina.

Durante o teu desenvolvimento evolutivo persevera, mas não te esqueças de ir te aperfeiçoando durante a jornada. Aprende a aprender, constrói, acredita!


 

8) MANGALAM – Irradiação de Felicidade


Quando o aspirante está consciente do percurso de sua jornada, e tem a certeza de estar em constante e eterno progresso evolutivo, a felicidade, inevitavelmente, brota de seu coração.

Mas veja! Não confundas felicidade com a alegria. A alegria é o antônimo de tristeza e advém do corpo mental-emocional inferior. O sentimento de alegria é gerado por algo fora de si, está condicionado. A felicidade está acima disso. Está relacionada com a meta suprema de realização espiritual.

Dito isso, o peregrino da luz deve iluminar com a tocha da felicidade todo o lugar por onde passar. Ele vive conectado.

A felicidade não é um sentimento, é um estado permanente de quem despertou e reconheceu o verdadeiro Reino de Deus.

Quando esta qualidade átmica é alcançada, o aspirante irradia com naturalidade, a felicidade, assim como a flor exala o perfume, a árvore oferta sombra e o Sol dá vida a todos os seres.

Nesse nível de consciência elevado, o discípulo se desprende de todas as coisas mundanas e dedica o fruto de suas ações ao Divino, submete o ego e experimenta uma vida repleta de virtudes superiores.

Quem experimenta a verdadeira felicidade irradia no seu entorno bem-aventurança. Sua presença passa a ser um alento aos demais que ainda se encontram na busca desenfreada da satisfação pessoal.


OM TAT SAT!


* Texto de autoria de Gustavo Sérgio Heil






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