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  • Foto do escritorGustavo Sérgio Heil

CONSTÂNCIA

Atualizado: 5 de ago. de 2022



A constância é considerada um dos maiores tesouros dados à humanidade. Ela é o bilhete que permite ao passageiro ingressar no trem e se dirigir até a próxima estação. Lá, nesse novo lugar, a pessoa passa a viver as experiências, consolida os ensinamentos, disciplina seus sentidos e, mais uma vez, torna-se apto a ingressar no trem da sabedoria para dirigir-se a uma nova estação.


Essa virtude garante ao homem experimentar a força de Deus, pois quando ele age sob o manto da constância, ele não está só, não é ele sozinho aplicando suas práticas diárias de autoconhecimento. Em cada gesto, em cada pensamento, em cada emoção alinhada à Fonte Suprema, sua percepção acessa à Verdade. E a Verdade é que somos Um! A paz que se busca ao longo de toda a jornada só pode ser saboreada quando dissolvemos internamente as marcas que projetam em nossa tela mental a separatividade da manifestação.


A natureza nos ensina esse tema em diversos exemplos. Para que a vida reluza no Cosmo Infinito há de se ter constância.


Quando se observa o ciclo de vida de uma planta, pode-se facilmente perceber a constância presente. Mesmo uma semente, embaixo de uma calçada de cimento, se tiver constância, encontrará a fissura no chão e brotará. A planta se ofertará ao mundo, dará a ele sua beleza, sua sombra, suas flores, seus frutos.




Perceba que esse preceito possui uma cadência, um ritmo, uma métrica de progresso. A evolução nos ensina que o caminho precisa ser percorrido. Não é seguro, não há crescimento naquele que pretende alcançar o cume da montanha sem fazer a peregrinação.


Veja o exemplo dos ensinamentos de Sócrates, no Mito da Caverna, em que prisioneiros viviam acorrentados dentro de uma caverna subterrânea e tudo o que eles tinham de acesso ao mundo exterior eram sombras distorcidas, que se projetavam em uma determinada parede na caverna.


Agora, imagine que uma dessas pessoas consegue escapar e sai de forma abrupta da caverna. A primeira experiência será um grande incômodo com a luz, que ofuscará seus olhos. Contudo, pouco a pouco, após se acostumar com o brilho do sol ele passa a ver a riqueza dessa nova realidade. Assim, paulatinamente, com constância e muita paciência, passamos a enxergar os tesouros de uma vida liberta das ilusões.


A constância deve ser recordada principalmente quando estamos passando pelas tempestades dos desafios mundanos. Supera o desafio aquele que mantém o foco, que não se desvia do objetivo, mesmo diante de grandes obstáculos. O foco caminha de mãos dadas com a constância.


Talvez seja interessante lembrar uma pequena passagem do Mahabharata, em que Drona, o Grande Instrutor Militar, tantos dos príncipes dos Pandavas quanto dos príncipes kauravas, estava a ensiná-los sobre a arte do arco e flecha. Drona havia colocado um espantalho de um abutre, feito de palhas e retalhos, em cima de um muro.

Ele pediu a Yudhisthira, o primogênito dos príncipes dos Pandavas, que mirasse com o arco e lhe dissesse o que via. Yudhisthira falou que via um abutre, o muro, seu próprio arco, seu braço e a flecha. Drona ordenou, em tom áspero, que ele voltasse ao seu lugar.


Depois chama Nakula, Bhima e Duryodhana. Drona, o professor da Arte da Guerra, determina que mirem no pássaro e narrem o que veem. A resposta foi semelhante a de Yudhisthira, eles viam o pássaro, o céu, o muro, as próprias mãos, o arco e a flecha. Do mesmo modo, em tom repreensivo, Drona manda que retornem aos seus lugares.


Por último, Drona chama Arjuna, que se tornou posteriormente o discípulo bem amado de Krishna. Arjuna mira o abutre. Drona lhe pede que descreva o que vê. Ele responde que apenas vê os olhos do pássaro e mais nada. O Professor, orgulhosamente, pede a Arjuna que dispare a flecha com a certeza de que acertaria o alvo.




Qualquer pessoa que ingresse no caminho do autoconhecimento e aplique a constância em suas práticas terá pleno êxito. Mesmo um homem rude e primitivo terá plenas condições de alcançar o estado de santidade, de glória.


Também é oportuno lembrar da história de vida do renomado Milarepa, que viveu entre 1012 a 1097 e alcançou o estado de bem aventurança em apenas uma existência. Ele, que havia se tornado destro na Magia Negra para se vingar, levou dezenas de pessoas a morte.


No entanto, após essa tragédia, deu-se conta do grande equívoco que havia cometido. Após encontrar um guru chamado Marpa, implorou a ele que lhe ensinasse o Dharma. O Mestre disse a Milarepa que sua iluminação dependeria exclusivamente de sua dedicação. Dali em diante, Marpa passou a dar tarefas dificílimas a Milarepa como construir uma torre de pedras e depois desmontá-la, tudo isso inúmeras vezes. Essas tarefas testavam o quanto Milarepa desejava a iluminação.




Depois de muito tempo se esforçando sem que o Mestre lhe ensinasse o Dharma, Milarepa havia perdido suas esperanças e resolveu tirar sua própria vida. Nesse momento, Marpa o procurou e disse que ele estava pronto para receber as iniciações (dikshas). Foi aí que Milarepa alcançou todos os estados sublimes de bem aventurança.


Finaliza-se essa reflexão com uma frase do mestre Yogananda, que diz: “Deus escolhe os que os escolheram.” Tenhamos, pois, constância no caminho espiritual.

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