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  • Foto do escritorGustavo Sérgio Heil

UM DOS ASPECTOS DA LEI DHÁRMICA REGENTE NA MANIFESTAÇÃO

Atualizado: 28 de jan. de 2021

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A Bhagavad Gita ensina à humanidade que toda a manifestação cósmica (prakriti) está sob influência das trigunas. As trigunas são as qualidades primárias ou fundamentais da matéria. Como lembra a Haydée Torino Wilmer, elas existem em todas as criaturas desde o animal até os devas.


Satwas, rajas e tamas compõem as trigunas. Das três qualidades, satwas representa as características superiores da manifestação. Nela, encontram-se as 26 qualidades devicas ou divinas. Rajas representa o movimento pela melhoria ainda aprisionado pelos encantos de Maya. E tamas seriam os atributos da inércia, da preguiça.


O primeiro passo é compreender a existência da interferência das trigunas sobre a criação. Não há como deixar de sofrer seus efeitos. A partir dela, a pessoa constrói sua visão de mundo, de convivência e de autopercepção. Pode-se compreender o grau de evolução de um ser a partir da predominância de uma dessas qualidades da matéria.


Em sequência, o objetivo visa iniciar o burilamento de si próprio (autopurificação). Gradativamente, aquilo que está tamásico, transmutar em rajásico e o que está em rajas tornar sátwico. Nessa etapa, o que se pretende, ao final, é a supremacia de satwa sobre rajas e tamas.


As qualidades inferiores são fortes e bastante enraizadas na individualidade. A manutenção desses defeitos ocorrem por conta de um sistema de convicções distorcido de separatividade, de que os seres estão desconectados uns dos outros. A existência desses atributos justifica-se pela falta de amor.


Agora, imagine que um ferreiro está a construir uma armadura. Os metais a serem utilizados são de liga leve (devicos) e pesados (asúricos).




Os metais de liga leve, como o titânio e o aço, permitem que o Guerreiro do Amor se movimente com suavidade, sinta-se livre para agir com maestria e cumpra sua missão. Ele detém o controle sobre seus movimentos.


Já os metais pesados, como o ferro e o chumbo, sobrecarregam o Guerreiro do Amor. Se a composição do metal da armadura fosse predominantemente de ferro ou chumbo, seria quase impossível movimentar-se. Com passar do tempo, a ferrugem atingiria a armadura e a força da inatividade comprometeria a vida do Guerreiro. Aliás, nesse estado, pouco a pouco, perderia a consciência de que ele é um amante da batalha espiritual.


De igual modo, constata-se que o ser humano é forjado por elementos/formas tanto de natureza divina como de natureza profana. Há pensamentos, emoções e ações que desqualificam a percepção. Quando elas imperam, o personagem torna-se egoísta e suas ações reforçam essa perspectiva. Nessa condição, não há possibilidade de se reconhecer a presença da Fonte Criadora dentro de si, muito menos de comungar com ela ou vê-la no próximo.


Os Mestres, todavia, ensinam que a prática ininterrupta de meditação tem o condão de transmutar, de forma alquímica, o denso em sútil, o asúrico em devico, o egoísmo em altruísmo.


Numa mente egoísta, o indivíduo fica aprisionado a um circuito fechado de existência. Esse modo de existir é retroalimentado da seguinte forma:


a) mente egocêntrica produz uma distorção da realidade (paixão, ira e cobiça);

b) o agir fica comprometido por esta distorção. As ações buscam a satisfação dos sentidos – “tesouro” ofertado à mente não desperta; e

c) Distanciamento da Fonte Criadora. Construção de uma percepção com base no medo.


O homem livre funciona de maneira oposta, senão vejamos:


a) Mente conecta com o coração (percepção unitiva). Percebe a organicidade da vida. Vê a unidade na multiplicidade e vice-versa.

b) Seu agir é livre de distorções. Vive integrado, buscando o serviço impessoal à Criação. Em verdade, oferece-se por inteiro à Manifestação Cósmica; e

c) Contata Deus por meio da meditação. A meditação ocorre pelo reconhecimento do Espírito, como parte integrante de Deus, dentro de si e em todos os seres (Suddha Yoga).


Finalmente, realizando um comparativo, chega-se ao seguinte quadro:



Mas é preciso lembrar que a Gita revela que se deve "transcender as gunas". E o que significa exatamente transcender as gunas? Significa que se deve ter o domínio e controle sobre elas. Perceba que o indivíduo que alcançou esse estágio, terá o domínio das três gunas, inclusive da sátwica. Ele percorre progressivamente esse processo de aperfeiçoamento (tamas-rajas-satwas) até se estabelecer em satwas. Somente repousando em satwas será possível perceber com a equanimidade as coisas e seres. 

A liberação das trigunas representa o domínio dessas duas naturezas: virtuosa (superior, devica), de um lado; e de outro, a natureza das vicissitudes (inferior, asúrica).


Transcender, portanto, as gunas simboliza o reconhecimento delas serem a causa imediata da manifestação, sendo a causa remota universal Deus (Brahman). Quando a consciência do aspirante se volta inteira para Deus e reconhece a influência das trigunas, ele se torna um velejador num oceano cheio de correntezas e ventanias. Por saber para onde deseja ir, ele manipula essas forças e avança rumo ao seu destino final: o mais alto estado de consciência de eterna aproximação Brâhmica (prapti).




* Texto de autoria de Gustavo Sérgio Heil.




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